No último dia 02 de abril, a comunidade escolar da E.E.B. São José participou, no turno vespertino, a partir das 14 horas, na Sociedade Recreativa Imigrantes, na cidade de Itapiranga, SC, da Audiência Pública sobre a Construção da Hidrelétrica de Itapiranga, SC, com a presença do Juiz Federal de São Miguel d´Oeste, SC, Dr. Márcio Jonas Engelmann. O convite para a participação no evento foi para toda a comunidade escolar, pais dos alunos (com os alunos), professores e funcionários da E.E.B. São José e IAESC. O Diretor do IAESC, Prof. Ir. Celso Schneiders, fez a explanação na audiência, com defesa à escola local (IAESC, E.E.B. São José e E.M. Oscar Puhl, e, a comunidade local). Em reuniões anteriores, acordou-se, sobre quais entidades que se pronunciariam e o tempo que teriam para o pronunciamento. Por fim, ficou acordado, que dezenove entidades apresentariam a sua defesa, numa fala máxima de dez minutos, usando a argumentação contra a construção da Usina Hidrelétrica de Itapiranga. Pela avaliação do Juiz Federal, do Promotor da Justiça Federal, dos representantes do IBAMA, e dos Pesquisadores Ambientais do Governo Federal, a audiência foi muito importante e produtiva, principalmente no que se refere a dados e postura das diferentes localidades e municípios, para as devidas análises do projeto pleiteado pela empresa construtora.
Leia abaixo, na íntegra, o pronunciamento do Diretor do IAESC, Prof. Ir. Celso Schneiders, apresentado na audiência:
Meritíssimo Dr. Juiz Márcio Engellmann
É uma honra podermos contar com sua presença em nosso meio e partilhar das nossas preocupações quanto ao espectro da Hidrelétrica de Itapiranga.
Primeiramente, tenho a dizer o seguinte, enquanto representante da educação dos atingidos por barragem (RS e SC), a nossa luta não se refere simplesmente a UHI e sim ao que ela representa para a região e o País. Somos e representamos o símbolo de resistência da luta contra as barragens por mais de 30 anos! Durante 30 anos somos pressionados e, e porque não dizer ameaçados... Em 1982 uma jornalista francesa veio ao Rio de Janeiro e ao saber da nossa resistência ela procurou o Col. Agrícola de Itapiranga recém fundado. Para ela foi algo único e fantástico encontrar um povo preocupado com o meio ambiente e sua luta.
Em síntese, aqui está em jogo mais do que uma possível barragem, mas o símbolo de uma luta contra os limites da política energética do nosso País. Qual é o limite desta política energética? Não queremos ser cobrados pelas gerações futuras quando estaremos sujeitos a termos energia em abundância e não termos água potável. Olhem para São Paulo e outros lugares.
Alguns dados históricos
Os Jesuítas vieram ao oeste catarinense em 1926 através da Sociedade União Popular (Volskverein) - colonizadora oficial responsável pelo povoamento da região - para oferecer novas oportunidades de vida aos colonos do RS. Inúmeras foram as dificuldades e intempéries que estes colonizadores enfrentaram, mas conseguiram superar os obstáculos que a natureza adversa manifestava.
Estes colonos tiveram que enfrentar sozinhos, isolados de tudo, o que devia ser realizado para uma sobrevivência digna da pessoa humana. A iniciativa particular, com o apoio dos Jesuítas foi uma das soluções para enfrentar todo tipo de adversidades na mata virgem.
“É fato historicamente conhecido que as comunidades de imigrantes (nossos colonizadores), nos primeiros anos de sua existência, nada ou muito pouco recebiam das autoridades locais, provinciais e muito menos federais. A confirmação desse fato aparece claramente nas palavras do presidente Getúlio Vargas, em discurso pronunciado em Blumenau no ano de 1940 (referindo-se aos colonos):
...de certo modo, no meio de imensas florestas, foram deixados ao abandono. Dir-se-ia que custaram muito a se assimilar à sociedade nacional, e falar a nossa língua. Mas a culpa não foi deles, a culpa foi dos governos que os deixaram isolados na mata. Os colonos só pediam duas coisas, escolas e estradas, estradas e escolas. No entanto, a população prosperava isolada, devido unicamente ao próprio esforço. Só tinha uma impressão do governo: era quando este se aproximava como algoz, para lhe cobrar impostos, ou como mendigo, para solicitar-lhe os votos. (Artur Rambo, Somando Forças,pág. 19)
A bem da verdade, a situação não mudou muito até hoje. Agora que constituímos nossos lares e temos nossas propriedades, mais uma vez estamos prestes a ser usados como capachos para interesses de multinacionais. A propósito, sabemos que certo órgão público proíbe fazer bolsa com couro de jacaré, mas nenhum órgão reprime a confecção do bolsa família com o couro da classe média...
Só mais alguns breves dados históricos:
Surge nos anos de 1960 o COMUDE (Conselho Municipal de Desenvolvimento). Três objetivos foram apresentados: Criação de um frigorífico, uma escola agrícola e uma laticínios. A Escola Agrícola (em Sede Capela), um prédio gigantesco foi construído com a ajuda do povo da região. Em torno de 100.000 horas de trabalho voluntário foi empregado. Qual a comunidade que tanto fez pela educação, mais precisamente a iniciativa privada? Em 1980 inicia oficialmente o Curso Técnico em Agropecuária. Até hoje foram mais ou menos 2000 técnicos que se qualificaram neste educandário, que infelizmente está com seus dias contados por uma série de razões que não nos compete analisar neste momento. O certo é que toda esta estrutura educacional, hoje com mais de 350 alunos, corre sérios riscos de ser riscada do mapa por causa deste projeto hidrelétrico.
E agora, fazendo um breve contraponto com as Missões dos Sete Povos das Missões (Séc.17 e 18), será que teremos que legar para as gerações futuras um lago de águas podres e admirar a “beleza” das praias e nos perguntar: O que esta experiência comunitária cristã tem a dizer para a nossa época, a partir do Rio Uruguai poluído e sem vida?
Esta também é a hora de afirmarmos, ainda bem que a nossa sociedade não sabe de que são feitas salsichas, como são feitas as leis, e diria como são feitas as hidrelétricas...
Não queremos que as gerações futuras nos acusem de omissos. Dizia o P. Antônio Vieira:
-Pelo que fizeram se hão de condenar muitos.
Pelo que não fizeram se hão de condenar todos.
A omissão é um pecado que se faz não fazendo.
Para lutar é preciso acreditar! E aqui acreditamos que é possível pensarmos num mundo diferente em que a água volte a ser sinal de vida e não de morte e que se questione de uma vez para sempre: Qual é o limite da política energética deste País? Além de ser uma política que não privilegiará a nós, mas o poder econômico capitalista e selvagem! Queremos o progresso, mas jamais a custa da desgraça alheia.

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